A perspectiva Sankofa no registro de narrativas por inclusão racial em Ciências Ambientais
O projeto "Narrativas e experiências negras na Ecologia: letramento racial e cultura inclusiva na pós-graduação" nasceu a partir de um sonho antigo e, ao mesmo tempo, afrofuturista de registrar a presença e a participação das pessoas negras em espaços de produção de conhecimento. Considerando os 10 anos de implementação da Lei de Cotas (nº 12.711/2012) e o cenário de implementação de políticas afirmativas no Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGE) do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e a oportunidade de apoio via Edital Santander para projetos de extensão universitária, identificamos tempo propício e terreno fértil para dar continuidade às ações necessárias para que se estruture um ambiente mais diverso, inclusivo e afetivo no PPGE.
Com esse intuito surge o presente projeto que entregará, via redes do PPGE, um conjunto de vídeos e textos para celebrar a presença negra em pesquisas de Ciências Ambientais. Com apoio do professor Dr. Paulo Inácio Prado (coordenador do PPGE), esse trabalho é coordenado pela professora Dra. Renata Pardini (PPGE) e produzido por Natalia Vieira e Mariana Inglez, respectivamente ex-aluna e atual doutoranda, ambas do IB-USP.
Os registros em textos e vídeos compartilhados com principal foco em discentes, docentes e funcionários do IB-USP, visam compor uma trajetória imagética da passagem das gerações e, dentro da perspectiva afrocentrada, referenciar nossas(os) mais velhas(os), também celebrando quem está chegando. Dividido nos eixos "ancestralidade", "identidade" e "legado", o projeto traz luz às vivências, sonhos e desafios enfrentados dentro do ambiente acadêmico e também representa a nossa forma de homenagear pessoas negras que pavimentaram o caminho que trilhamos anos depois, além de nos provocar a refletir sobre o legado que estamos construindo para as gerações seguintes.
É com base na simbologia Sankofa que esse projeto se estrutura. Sankofa representa uma ave que tem a cabeça voltada para trás e carrega em seu bico um ovo. Olhar para trás é uma forma de contemplar nosso passado, referenciar a todas as pessoas que vieram antes, reconhecer e celebrar existências que, de alguma forma, permitiram a nossa presença no hoje. O ovo simboliza o novo, o afrofuturo que estamos construindo. É urgente que pessoas negras possam criar imagens positivas para si, subvertendo o lugar de dor e de não-pertencimento.
Esperamos que o projeto permita o contato com outros e outras ainda minoritários no espaço acadêmico, estimule a abertura a outras vivências e perspectivas, contribuindo para a conscientização sobre a importância da presença da diversidade em todos os espaços. Fica o convite para acompanharem as produções no aqui no site e também no YouTube do Programa de Pós-Graduação em Ecologia.
Grande abraço,
Mari e Nati.
Para saber mais:
Sobre o contexto apresentado, indicamos a escuta do episódio do dia 30 de agosto do podcast “Café da Manhã” da Folha de São Paulo: Passado e futuro da Lei de Cotas, 10 anos depois.
Para melhor compreensão do Brasil de hoje, também sugerimos revisitar a história de construção de nosso país a partir de uma perspectiva afrocentrada disponível no podcast “Projeto Querino”, idealizado e conduzido pelo jornalista Tiago Rogero no estilo documental produzido pela Rádio Novelo, com apoio do Instituto Ibirapitinga.
Sobre as autoras
Mariana Inglez: Formada em Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2010) e mestra em Ciências (Biologia / Genética) pelo IB-USP (2015). Atuou desde a graduação nas áreas de bioarqueologia e bioantropologia, em contextos arqueológicos e forenses (em projetos acadêmicos e consultorias e via PNUD para a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência da República, respectivamente). Atualmente, como doutoranda no LAAAE-USP, estuda o processo de transição nutricional em comunidades ribeirinhas da Amazônia a partir de uma abordagem bioantropológica. Realizou etapa sanduíche no Departamento de Antropologia da The Ohio State University (Columbus, OH, EUA), sob orientação da Prof. Dra. Bárbara Piperata (Bolsista CAPES-Print/USP – 2020). Sua experiência como educadora iniciou-se como professora de Ciências e Biologia na rede pública de ensino do Estado de São Paulo (2011-12) e hoje, como educadora socioambiental no Instituto Sylvio Passarelli e tutora no projeto “Meninas de 10 anos: emergências climáticas” do Museu do Amanhã (RJ). Com o objetivo de popularizar ciência e torna-la mais inclusiva e atrativa para todes, especialmente para pessoas negras e mulheres, tem investido em atividades de divulgação científica multimídia para redes sociais, tendo sido co-fundadora e coordenadora do projeto “Evolução para Todes”, como grantee do Instituto Serrapilheira.
Natalia Vieira: Formada em Ciências Biológicas (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade de São Paulo (2022), Natalia estudou a história natural de uma população introduzida de Phyllodytes luteolus em área urbana no Município de Santo André-SP. Além do interesse por temas em Zoologia, tem atuado como educadora em tempo integral na disciplina de Ciências do ensino básico (fundamental II), sua outra paixão. Atualmente inclusive, tem pesquisado sobre Ensino de Ciências a partir de uma perspectiva afrocentrada e das relações etnico-raciais.. É co-fundadora do Coletivo Bitita (IB-USP), com experiência de ensino também em espaços de educação não-formal (Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, setor de Difusão de Conhecimento) e extensão universitária. Atuou como educadora voluntária no grupo de alfabetização e Ciências da ONG Projeto Alavanca Brasil (2016-2018).
Coordenação de: Renata Pardini Colaboração: Paulo Inácio Prado




