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darwin thinking path wikicommonsNo último fim de semana, pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade de São Paulo (PPGE - USP) participaram da 14ª edição do Avistar. O evento é destinado ao turismo de observação de aves e à comunicação de ciência.

Desde o primeiro dia de evento o PPGE se fez presente. O professor Marco Mello, que estuda interações entre organismos de espécies diferentes, como os processos de polinização e dispersão de sementes, falou sobre as colinas de Darwin. As colinas são uma alegoria à complexidade da vida e remetem ao último parágrafo do livro “A origem das espécies”, escrito pelo naturalista inglês:

“É interessante contemplar uma colina emaranhada, vestida com muitas plantas de vários tipos, com pássaros cantando nos arbustos, com vários insetos voando por ela, e com vermes rastejando pela terra úmida, e refletir que essas formas elaboradamente construídas, tão diferentes umas das outras, e dependentes umas das outras de maneira tão complexa, foram produzidas por leis que atuam em torno de nós”.

 
Em seguida, a doutoranda Isabella Romittelli abordou a temática de serviços ecossistêmicos, que são os benefícios que a natureza oferece ao ser humano. Alguns exemplos de benefícios são o abastecimento de água, o controle do clima e a polinização de cultivos agrícolas. Além dos serviços que cumprem o papel de provisão ou regulação, existem aqueles que oferecem suporte a outros serviços mais diretos. É o caso da ciclagem de nutrientes no solo e a dispersão de sementes. E existem ainda os serviços de natureza recreativa, educacional, religiosa e estética. O avistamento de aves, por exemplo, se encaixa neste último grupo. “O avistamento de aves é um serviço ecossistêmico de recreação, de bem-estar. As pessoas quando realizam atividades de avistamento de aves obviamente se interessam pelas aves e pelo contexto em que elas estão. Então a ideia é não tratar a ave de forma isolada porque a ave não está lá só para deleite de nossos olhos e ouvidos, ela está em um contexto”, diz Isabella.

O contexto ao qual a Isabella se refere envolve a conservação do habitat natural dos animais e também a conservação das espécies com que eles interagem. “A gente já perdeu muitas aves, principalmente por perda de floresta. E por isso é importante discutirmos os serviços ecossistêmicos e o papel da conservação para que eles continuem existindo”, complementa ela.

 

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Imagens: Lucas Roedel

Isabella também destacou a importância da pesquisa básica para a manutenção dos serviços ecossistêmicos. O Laboratório de Ecologia de Paisagem e Conservação (Lepac), no qual a Isabella trabalha, investiga a ecologia básica de como a biodiversidade provê serviços e como esse provimento é influenciado pela fragmentação e degradação da floresta Atlântica. No entanto, os resultados obtidos nas pesquisas podem ser alinhados a aplicações econômicas e sociais. “A princípio é uma pesquisa básica sobre, por exemplo, quão sensível é uma espécie e como ela está se deslocando na paisagem. Mas, se a gente coloca no contexto de serviço ecossistêmico, como a espécie presta um serviço de produção agrícola ou bem-estar, então a pesquisa básica se alinha a uma aplicação”, explica.

 

Curiosidade à mesa

Além das palestras, o PPGE organizou atividades nas mesas do Ciência Aberta, um espaço para interação mais direta com os participantes do evento. Pessoas de todas as faixas etárias se juntaram em torno dos materiais expostos e conversaram sobre conservação de mamíferos, desenvolvimento de máquinas inspiradas em animais e prevenção de atropelamento de animais em rodovias.

Na mesa de conservação de mamíferos, realizada na tarde de sábado, perguntas sobre diversidade e evolução foram comuns. Diante de crânios e esqueletos, o biólogo Lucas Teixeira falou sobre aspectos da biologia de onças, gambás e roedores e explicou como a preservação de florestas afeta a relação entre mamíferos e proprietários de terra. Lucas fez mestrado sobre este tema no PPGE, sob orientação da professora Renata Pardini.

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Imagens: Lucas Roedel

Na manhã de domingo, o biólogo Fernando Puertas e o designer Eduardo Lobo apresentaram pequenas máquinas inspiradas na biologia de diferentes animais. As máquinas são produzidas por modelagem e impressão 3D e fazem parte do projeto Animáquinas, uma oficina que usa a criatividade para promover aprendizagem significativa baseada em design. O processo de desenvolvimento do material começa com a criação de um modelo com massinha de modelar e depois passa para a modelagem digital e a impressão 3D.

Além de Fernando e Eduardo, o designer Edison Cabeza também coordena o projeto. Juntos, eles valorizam a integração entre diferentes áreas. “Nós vamos aprendendo juntos. Isso que é bacana. Aprendemos aspectos de Biologia e processos da natureza, mas trocamos ideias de design também, de processos de fabricação digital“, comenta Eduardo. E o aprendizado coletivo não é só entre a equipe coordenadora. O público-alvo, que inclui pessoas de 10 a 70 anos de idade que já tenham uma vivência no mundo digital, dita o passo do processo criativo. Segundo Fernando, a maior riqueza do projeto é aprender com as diferentes vivências e referências que as pessoas têm sobre os animais.

 

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Imagens: Lucas Roedel

Para finalizar a participação do PPGE, a tarde de domingo contou com a exposição do projeto Via Fauna, dedicado ao manejo de fauna em rodovias, ferrovias e aeroportos. O objetivo do projeto, apresentado pela bióloga Fernanda Abra, é contribuir tanto para a conservação dos animais quanto para a segurança dos usuários de sistema de transporte.

As estratégias utilizadas para evitar o atropelamento de animais incluem a instalação de passagens acima ou abaixo das rodovias. Cada passagem é planejada com características específicas que atendam à biologia das espécies animais de interesse. Para que os animais aprendam que uma passagem é segura, eles são direcionados para o local por meio de cercas, que cobrem áreas extensas no entorno do empreendimento de transporte.

A taxa de eficácia das passagens para evitar atropelamentos varia de 30% a 90%, dependendo do trecho da rodovia ou ferrovia em que elas estão instaladas. “Precisamos considerar a qualidade da cerca, seu estado de manutenção e o uso do solo próximo à rodovia. Por exemplo, hoje há fragmento florestal dos dois lados da estrada e os animais utilizam a passagem com sucesso. No próximo ano, pode ser que o mesmo trecho esteja ladeado por um condomínio de luxo e uma plantação de cana-de-açúcar. Muitas variáveis podem interferir na eficácia das medidas, mas a combinação de passagem de fauna e cercas diminui até 86% dos atropelamentos”, explica Fernanda.

 

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Imagens: Lucas Roedel

 

Importância da interação com a sociedade

Eventos como o Avistar, que promovem contato entre pesquisadores e público não acadêmico, são importantes para a troca de informações e o fortalecimento da ciência nacional. Para Isabella, o desafio de não usar jargões na hora de falar sobre sua pesquisa e tornar o tema atraente para uma audiência ampla foi um grande aprendizado. Ela também destaca que não basta os pesquisadores falarem com o público, é preciso saber ouvir. “Neste contexto de avistamento de aves, dar e receber informação do grupo de pessoas interessadas em observação é muito importante porque eles têm muito conhecimento prático, têm muito a dizer sobre os animais e os temas que estudamos“, afirma ela.

Fernanda complementa ressaltando o papel formativo dos eventos e a possibilidade de pressão dos usuários em prol de políticas de conservação da fauna e segurança rodoviária: “Nós estamos educando as pessoas sobre como resolver os problemas. Assim elas podem cobrar tanto o governo quanto o administrador rodoviário, seja ele público ou privado, para que sejam adotadas soluções para o atropelamento de fauna”, destaca Abra.

O Avistar foi realizado de 17 a 19 de maio, no Centro de Práticas Esportivas da USP.

 

Galeria de fotos

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